O que torna uma pessoa especial é sua capacidade de viver intensamente por uma causa. São raras nos dias de hoje. Vive-se muito pela metade ultimamente. Pessoas que se empenham na realização de seus sonhos não se conformam com a uniformidade. Assumem o preço de srem diferentes e, geralmente, nadam contra a corrente. Isso requer coragem.
Coragem de ser, não simplismente de fazer, afinal, é no ser que o fazer encontra o seu sustento. Faço a partir do que sou. Não o contrário.
Tenho encontrado muita gente perdida no muito fazer. Gente que perdeu totalmente o referencial existencial de suas vidas. Gente que se empenhou e investiu na vida só para um dia poder fazer alguma coisa. Estudou, lutou, aprofundou, com o desejo de um dia perder desempenhar uma função.
É claro que o fazer também realiza, faz feliz, mas não podemos negar que há uma realidade que precede o mundo da prática.
O significado que sou...
No silêncio do coração, há um lugar que não sabe fazer nada. É lá que nos descobrimos em nosso primeiro significado. É ele também o nosso lado mais sedutor. É ele que faz com que as pessoas se apaixonem por nós. É justamente por isso que ele tem que ser bem descoberto, de maneira que, quando façamos o que quer que seja, tudo o que fizermos tenha as marcas do que somos. É simples.
Medicina muita gente faz, mas é no exercício da profissão que cada pessoa se mostra em sua intimidade mais profunda. Aí mora a diferença. Muitos fazem a mesma faculdade, mas se encontram de maneira diferente com o conhecimento que receber. Realizo tudo a partir de minha particularidade. Sou único, ainda que imitado por muitos.
Eis a questão...
Essas coisas me fazem pensar na beleza e na responsabilidade que essa diferença nos tras. Ela nos coloca diante da vida como um acontecimento que merece ser sorvido com toda a intensidade do nosso coração. Agir é um desdobramento do meu ser. Eu sou antes de fazer qualquer coisa. Há em mim uma realidade qu me faz significar, mesmo que um dia eu fique totalmente incapacitado de realizar qualquer ação. Eu sou, mesmo na incapacidade dos movimentos e na impossibilidade dos gestos.
Nem sempre podemos compreender tudo isso, por mais simples que seja. Vivemos na era da utilidade, onde tudo que estar conectado a uma função prática, onde fazer prevalece sobre o ser. O que você faz na vida? Esta é a pergunta.
O que você é na vida? Continua sendo a pergunta. Mas a primeira é mais fácil responder.
Dizer o que se faz não dá tanto trabalho quando dizer o que se é. O que se faz é simples de se dizer e as palavras nos ajudam, mas dizer o que se é, não é tão simples assim, e por vezes, as palavras nem sempre nos socorrem.
Sou muito mais do que posso dizer sobre mim mesmo. Você também. Por isso não gostaria que nossa conversa terminasse com uma pergunta prágmática, dessas que se escutam em todas as esquinas que costumamos frequentar.
Opto por uma pergunta que não espera por resposta imediata, tão pouco pelo desconcerto da fala. Só peço que honestamente debruce-se sobre ela : Quem é você ?
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